28 de junho de 2009

Chuva

Mariza - Chuva



Chuva

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir


São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Composição: Jorge Fernando

26 de junho de 2009

Amigo...




Amigo é aquele que o tempo não apaga,
a distância não separa e a maldade não destrói,
amigo é um ser diferente é aquele que está sempre presente
quando a solidão nos doí.

O verdadeiro amigo não é aquele que nos alegra com mentiras,
mas sim aquele que nos ofende com as verdades.

Ser amigo não é coisa de um dia, são actos, palavras e atitudes
que se solidificam no tempo e não se apagam mais.

A amizade são verdadeiros carinhos que a chuva não apaga,
o vento não leva, o fogo não queima, a terra não contém
e o tempo não esquece.

(autor desconhecido)

21 de junho de 2009

A Hora do diabo

"...A música, o luar e os sonhos são as minhas armas mágicas. Mas por música não deve entender-se só aquela que toca, se não também aquela que fica eternamente por tocar. Por luar, ainda, não se deve supor que se fala só do que vem da lua e faz as árvores grandes perfis; há outro luar, que o mesmo sol exclui, e obscurece em pleno dia o que as coisas fingem ser. Só os sonhos são sempre o que são. É o lado de nós em que nascemos e em que somos sempre naturais e nossos..."

Fernando Pessoa - A Hora do diabo



À música, ao luar e aos sonhos acrescentaria o mar...

Ao luar,
Perco o olhar
No mar estendido
Na areia amarela.
No horizonte dos meus sonhos
Ouço a melodia
Das ondas do silêncio.

m@res

18 de junho de 2009

Corações distantes



Talvez eu não saiba o quanto eu realmente te amo,
nem você, nem as estrelas que me acompanham.
Nesta noite fria e distante, meus olhos se perdem,
ora miram o vísível da noite, ora o invisível da mente.
Eu me perco nesta viagem, nesta saudade.
O coração sente a sua proximidade, mesmo tão distante…

Talvez o amor seja essa descoberta,
de que precisamos um do outro,
ainda que completos, ressentidos,
tão imaturos ou amadurecidos.
Inocentes ou calejados pela vida.

Vivendo do que fomos ontem,
pensando no amanhã,
descubro que te quero hoje.

O meu dia é você!
E para isso não preciso de filosofia,
nem discuto com o analista, apenas sinto.
Sinto a sua falta como se fosse algo palpável,
como se existisse uma máquina capaz de medir,
e a dor da ausência é inexplicável…

Por isso, me perco nestas notas,
anotando o descompasso do meu coração,
para dizer o que não sei explicar,
queria apenas poder gritar:te amo,
ou quem sabe sussurrar: te desejo.

Me perder de vez nos teus braços,
para deixar de ser ausência,
e ser simplesmente calor,
escrevendo assim na eternidade,
a mais bela história de amor.


Paulo Roberto Gaefke

Por favor...



Por favor esqueça;
os desaforos e decepções causadas pelas pessoas:
são como pedras pesadas em nossa mala de viagem,
atrasam, cansam e são inúteis.


Por favor não esqueça;
as palavras de incentivo e o carinho dos amigos,
são como flores e alimentos para alma,
perfumam e nos empurram para a vitória.


Por favor esqueça;
os erros cometidos, os deslizes,
ninguém é perfeito e estamos em constante evolução.
Viver no passado e com arrependimento é morrer aos poucos,
suícidio lento e doloroso...


Por favor não esqueça;
transforme cada erro em aprendizado,
e cada acerto em prêmio,
uma recompensa pela sua persistência.
Felicidade é uma meta, mas alegria é fundamental.
Acredite: você pode muito mais!

Por favor esqueça;
o amor que se foi e o relacionamento que não foi,
a paixão mal vivida, o lar desfeito,
a incompreensão de quem você tanto amou,
mágoas que ocupam vaga no seu coração.
Liberte-se!
Abra espaço para um novo amor.


Por favor não se esqueça;
Somos frutos do amor, e por ele vivemos,
não se feche, mas não se iluda,
não confunda carência com certeza,
medo da solidão com persistência.
O amor pede tempo, paciência e esperança,
que se renovam agora com uma certeza:
"ele acontece de muitas formas
e tantas vezes quantas forem necessárias".
Somos a própria chama do amor.

Jamais se esqueça de ser feliz!


Paulo Roberto Gaefke

11 de junho de 2009

Insónia

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite –
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
– Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
– Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos –
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo – sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.

Álvaro de Campos

10 de junho de 2009

Pus o meu sonho num navio



Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Cecília Meireles